quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Estudo indica homem primitivo não estava sozinho


                                                          Foto: Freed Spoor/Nature
O antepassado do homem moderno dividiu o planeta com pelo menos outras duas espécies relacionadas quase 2 milhões de anos atrás, afirmaram cientistas nesta quarta-feira, apontando para peças recém escavadas de um quebra-cabeças que já dura 40 anos.
As descobertas, publicadas na revista científica Nature, tratam da odisseia do nosso ancestral, o humano primitivo de postura ereta conhecido como Homo erectus. O H. erectus e o parente construtor de ferramentas denominadoHomo habilis foram provavelmente contemporâneos de uma espécie ainda mais antiga, denominada Homo rudolfensis, argumentam os cientistas.
"A evolução humana não (é) claramente a linha reta que se pensava anteriormente", afirmou o coautor do estudo, Fred Spoor, em teleconferência. Spoor e uma equipe de cientistas escavou fragmentos de dentes, face e mandíbula datados do período Pleistoceno, em um sítio a leste do lago Turkana, no norte do Quênia, entre 2007 e 2009. A descoberta pôs um fim a uma busca angustiante por pistas sobre o hominídeo de rosto reto e grande cérebro, cujo crânio tinha sido encontrado ali perto em 1972.
 Paleontólogos Meave Leakey e Fred Spoor, autores do estudo, aparecem coletando fósseis no Quênia, perto do local onde foi encontrada a mandíbula KNM-ER 62000 (Foto: Mike Hettwer/National Geographic/Nature)

Conhecido como KNM-ER 1470 ou simplesmente como 1470, o hominídeo teria vivido cerca de 2 milhões de anos atrás. Mas esta foi a única coisa que ficou clara, já que paleontólogos brigaram asperamente sobre sua identidade.

Até 2007, tal evidência permaneceu indefinida, uma vez que no crânio faltava o osso da mandíbula inferior, parte vital da evidência. "Então, nossa sorte mudou magicamente e no prazo de três anos, encontramos três fósseis que acreditamos ser tributáveis à mesma espécie do 1470", disse Meave Leakey, que tinha descoberto o 1470 juntamente com seu marido, Richard Leakey.

Louise, a filha do casal, integrava a equipe que descobriu os novos fósseis. Os novos fragmentos de dois indivíduos que se parecem com o 1470 têm entre 1,78 e 1,95 milhão de anos e foram encontrados no raio de 1 km do local onde foi descoberto o 1470. "Um dos grandes problemas com o crânio do 1470 era que, embora fosse notavelmente completo, com a caixa craniana completa e uma parte considerável da face, não tinha dentes, nem a mandíbula inferior", disse Spoor.

"Este (novo) pequeno crânio tem dentes e de fato os dentes estão muito bem preservados", acrescentou. Os novos fósseis foram cuidadosamente removidos do arenito usando uma broca de dentista antes de serem escaneados por dentro e por fora em um hospital de Nairóbi, capital do Quênia.
                                          
                                                                                 Foto: Freed Spoor/Nature

                                               Foto: Mike Hettwer/National Geographic/Nature
Os escâneres foram usados em uma reconstrução virtual de toda a mandíbula inferior, que demonstrou ter um bom encaixe com a mandíbula superior do 1470. O resultado: um hominídeo que muito provavelmente é de uma linhagem mais antiga do homo chamada H. rudolfensis. Se assim for, significa um golpe em uma teoria contrária de que o 1470 seria um Homo habilis com má-formação.
"Falando estatisticamente, as chances de que esta seja realmente uma espécie diferente aumentaram enormemente", disse Spoor. As três espécies supostamente ficaram fora do caminho umas das outras e tinham alimentação diferente, supõem os autores.
A descoberta é "significativa porque eles respondem a uma questão chave em nosso passado evolutivo: quão diverso foi nosso gênero perto da base da linhagem humana?", explicou Leakey.
Para outros especialistas, a descoberta mostrou que a família humana de 6 milhões de anos teve três raízes complexas, mas alertaram sobre como deviam ser interpretadas.
Algumas autoridades, por exemplo, argumentam que o Homo erectus evoluiu do Homo habilis, enquanto outros insistem que os dois eram primos ou espécies irmãs.
Os fósseis "ajudam a confirmar a existência de um tipo distinto de humano antigo cerca de 2 milhões de anos atrás", afirmou Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres.

Lopes, M.P.
Fonte (http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/08/cientistas-descobrem-fosseis-de-nova-especie-de-hominideo-na-africa.html)

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